A cidade de Várzea Alegre, hoje, não amanheceu, alegre, nós utilizamos somente o primeiro nome, Várzea. A Várzea dos Raimundos perde mais um filho e não foi um qualquer. Pois ele ajudou a construir essa terra, culturalmente, na agricultura e principalmente na medicina.
Morreu no hospital do coração, em Barbalha, na passagem a esta sexta-feira, 21, Dr. Raimundo Sátiro, aos 80 anos. Após internação na Unidade de Terapia Intensiva – UTI daquele hospital no dia 08 de fevereiro, devido a um problema de arritmia cardíaca.
Raimundo foi pai, amigo e humano. Segundo a sua biografia escrita por Paulo Vilar, no exercício de sua profissão como médico, Dr. Raimundo Sátiro, por vocação e de coração, deu preferência por exercê-la no interior, em sua cidade de origem, dividindo-se entre a clínica geral, a cirurgia obstetra e realização de partos e, ainda, a anestesia, área em que possui especialização acadêmica.
Ao longo de sua carreira, já são mais de vinte mil partos, centenas de milhares de anestesias feitas e todos os recordes batidos em número de plantões dados. Inclusive, Dr. Raimundo Sátiro chegou a morar, literalmente, em um quarto de hospital, durante doze anos.
Ajudou a construir o hospital São Raimundo Nonato, no meu podcast “Escuta Essa Aí” ele conta como foi.
O Hospital São Raimundo Nonato foi berço da quase totalidade de seu trabalho como médico. Fato curioso é que, no fim da adolescência, chegou a trabalhar como servente de pedreiro durante a construção do hospital. Enquanto consolidava sua carreira como médico, Dr. Raimundo Sátiro não se esqueceu da sua história como filho de agricultores nem de sua infância passada na roça. Quando ainda residia no município de Cariús, teve, várias vezes, a oportunidade de viajar com seu pai para o sertão dos Inhamuns, um semiárido propício para a atividade agropastoril no município de Tauá. As viagens eram feitas em lombo de animal, extenuantes e perigosas.
Uma distância de 250 km, que levava até cinco dias para ser percorrida. Com a situação econômica já se estabelecendo, graças ao seu trabalho como médico, Dr. Raimundo acabou comprando a Fazenda Corisco, na região dos Inhamuns, município de Tauá, onde ele fora tantas vezes durante a infância e adolescência. Lá investiu na criação e manejo de gado, dando início a sua outra grande paixão, a agropecuária. A Fazenda Corisco, uma das maiores da região, foi imortalizada pelo poeta e compositor, Zé Clementino, em uma música gravada por Dominguinhos. De propriedade de Dr. Raimundo é, também, a Fazenda Jaburu, no município de Várzea Alegre, que é, inclusive, uma área de preservação ambiental, para espécies nativas da fauna e da flora, com riscos de extinção.
“Há duas maneiras de fazer uma fogueira: uma com madeira seca e outra com sementes. Os herdeiros preferem a madeira, pois querem resultados rápidos. Já os sucessores preferem as sementes, pois, plantando-as, sabem que terão uma floresta e nunca mais lhes faltará madeira para se aquecer… Você prefere a madeira ou as sementes?” Essa frase pertence ao renomado psiquiatra e escritor Augusto Cury.
A filosofia contida nessas palavras é compartilhada por Dr. Raimundo Sátiro. Assim como Augusto Cury, que é pioneiro e já foi o maior plantador de mogno africano no Brasil, Dr. Raimundo também é um apaixonado e defensor dessa cultura. Plantar mogno é acreditar no futuro e pensar nas gerações que virão. É semear e acreditar que a colheita poderá não ser sua, mas que ela só será possível porque, um dia, alguém ousou semeá-la. Médico, agropecuarista, ambientalista e plantador de mogno. Esse é Dr. Raimundo Sátiro. Somem-se a isso a figura de um homem realizado em tudo que faz, um esposo dedicado e o pai de três filho.
Raimundo não queria descansar, faria 50 anos de carreira, e tinha planos de continuar ajudando o seu povo no hospital. Raimundo vai embora, mas deixa seu legado, que jamais será esquecido.
foto\Podcast