São Paulo – A Fujifilm, conhecida por suas câmeras e filmes fotográficos analógicos, se reinventou completamente nos últimos anos. Ela entrou em novas áreas, como farmacêutica e cosméticos, e investiu em divisões já existentes, mas até então menores, como equipamentos e sistemas em saúde.
A mudança deu resultado. Atualmente, a sua divisão de saúde superou o faturamento da divisão de imagem no Brasil. Mundialmente, esta área já corresponde a 17% do faturamento total.
“A divisão de saúde é o futuro do nosso negócio”, afirmou Mutsuki Tomono, presidente da Fujifilm Brasil em entrevista a EXAME.com.
A transformação foi necessária para a empresa japonesa: “Nós perdemos o nosso negócio, não só os filmes analógicos, mas também de imagem digital”, disse o presidente.
As câmeras de fotografia e outros produtos similares correspondem a apenas 4% do faturamento da companhia. Já câmera analógica Instax e os filmes são responsáveis por 10% das vendas. Caso não tivesse buscado alternativas em outros mercados, a Fujifilm encontraria dificuldades para manter o seu tamanho.
Esta mudança não foi feita da noite para o dia. “Não dá para se reinventar em 5 anos. Para criar produtos novos, você precisa de pelo menos 15 anos, precisa de um plano de longo prazo”, disse o executivo.
A sua maior divisão atualmente é a de soluções para documentação, que produz copiadoras, impressoras e outros equipamentos da marca Xerox, adquirida em 1962. Ela gera 47% do faturamento total da empresa, que foi de 22,1 bilhões de dólares em 2016.
Saúde em foco
Ainda que o enfoque seja mais recente, a divisão de saúde da japonesa remota a 1936, com o desenvolvimento de sua primeira máquina de raio-X. A primeira máquina digital de radiografia foi criada em 1980.
A empresa produz, atualmente, equipamentos de radiografia, endoscopia, ultrassom, mamografia, entre outros.
Para tratar as imagens criadas por esses aparelhos, a Fujifilm precisou desenvolver softwares de gestão e tratamento destas imagens. Enquanto no início estes programas eram usados exclusivamente nos próprios equipamentos, hoje é uma divisão independente, responsável por 9% do faturamento total.
Com a aquisição da TeraMedica, há cerca de dois anos e meio, ela também entrou no mercado de gestão de informações na área de saúde. Em um único sistema, ela consegue reunir informações sobre os pacientes, agendamento, gestão de arquivos e exames e até a parte financeira de um hospital.
Maior do Brasil
No Brasil, a divisão de saúde se tornou a maior da companhia a partir deste ano, afirmou o Eduardo Tugas, diretor da divisão médica no Brasil.
Desde a década de 1980, a japonesa vendia equipamentos médicos no país através de uma revendedora. Porém, quando a companhia global decidiu investir mais e focar em sua divisão de saúde, a Fujifilm no Brasil comprou a revendedora há cerca de dois anos.
Também refez toda sua rede de vendedores e de parceiros e contratou mais funcionários no país – já são mais de 170.
Seus equipamentos e sistemas foram instalados em grandes clientes e hospitais de renome.
Inovação com o velho
O mesmo filme fotográfico, condenado a praticamente desaparecer com o surgimento de câmeras digitais, foi essencial para a criação das novas tecnologias e produtos da empresa.
Com mais de 20.000 produtos químicos patenteados, a empresa começou a adaptá-los para outros mercados.
A película que cobre o filme, por exemplo, foi a base para a criação de cosméticos. Uma fina camada de gelatina cobre o filme para manter todos os produtos químicos estáveis e impedi-los de se degradarem. Essa gelatina, ou colágeno, foi adaptada para ser usada em cosméticos para a pele. Antioxidantes, também usados nos preparos dos filmes, foram modificados para cremes anti-idade.
A companhia lançou sua marca de cosméticos, Astalift, em 2006. Os produtos são focados no cuidado da pele e vendidos principalmente na Ásia.
No Japão, o filme fotográfico ajudou até na produção de cerveja. Para tratar a água usada nas fábricas de produção dos filmes, a companhia criou um filtro muito fino e delicado, capaz de remover bactérias e até as impurezas mais pequenas.
Esse filtro passou a ser usado em algumas fábricas de cerveja, para remover as bactérias que fermentam o líquido, transformando-o em chope. Outras fábricas precisam ferver a bebida para matar os microorganismos, o que altera o sabor.
Aquisições para acelerar
Enquanto algumas inovações vieram dos laboratórios da companhia, outros foram adicionados ao seu portfólio por meio de aquisições.
No setor farmacêutico, uma das compras mais importantes foi a Toyama Chemical, companhia japonesa. “Ganhamos tempo de pesquisa ao comprar laboratórios e farmacêuticas”, afirmou Tomono.
Desde 2000, a Fujifilm comprou cerca de 40 empresas, investindo até 10 bilhões de dólares.
Com as companhias compradas, ela já desenvolveu um remédio contra a gripe e outro contra a Ebola, usado na crise de 2014 na África. Outros medicamentos estão em desenvolvimento e em testes clínicos e devem ser lançados em breve.
Fonte: Exame